Na nossa postagem de Novembro de 2022, discutimos sobre como evitarmos o viés doméstico de investirmos somente no Brasil e cometermos o erro de não diversificarmos nossas carteiras excluindo os investimentos no exterior.
Muitas pessoas acham que isso é complicado ou muito arriscado porque acreditam que só é possível investir na bolsa de valores. Mas, assim como aqui no Brasil, investir não se limita só a bolsa de valores.
Além do benefício da diversificação geográfica ao investirmos no exterior, temos acesso a outros tipos de ativos. Uma delas, que abordamos antes, são as commodities. Outra classe de ativos é a renda fixa, da qual falaremos hoje.
O crédito é uma peça fundamental para a engrenagem da economia funcionar. Quando uma empresa, um banco ou um governo precisa financiar suas atividades ou executar um projeto, emite títulos para obter esses recursos emprestados. Investindo no mercado de renda fixa, financiamos algum desses agentes econômicos e recebemos em troca os juros definidos no título.
Conhecendo os bonds
Nos mercados externos, os títulos de renda fixa são conhecidos como bonds, sejam eles emitidos por governos ou por empresas. No Brasil, os títulos do Tesouro Direto são os mais semelhantes aos bonds governamentais (também conhecido como soberanos), enquanto os CDBs e as debêntures emitidas por empresas são os exemplos mais clássicos dos equivalentes aos bonds bancários e corporativos.
O mercado de bonds é menos conhecido pelos investidores que o mercado de renda variável, mais famoso pelas bolsas de valores. Ao final de 2022, a soma dos bonds em todos os mercados atingiu 133 trilhões de dólares americanos, superando a soma de 104 trilhões de dólares americanos da produção (o PIB) de todos os países nesse mesmo ano. Impressionante, não?
Apesar de ser uma das maiores economias do planeta, o Brasil representa 2,3% da economia global. A participação do nosso país é ainda menor nos mercados globais. Assim como dentre as bolsas de valores, a participação do Brasil no mercado de bonds é pequena, representando apenas 1,8% do seu total.
Fonte: elaboração do Visual Capitalist com base no Banco de Compensações Internacionais (BIS), Reuters e Eastspring Investments.
Ao investirmos em bonds temos acesso a empresas e setores que não temos exposição no Brasil, como, por exemplo, as empresas de tecnologia ou as grandes líderes de mercados globais. Também podemos ter acesso a títulos de empresas brasileiras emitidos no exterior e que não são disponíveis no mercado local.
Como podemos investir em bonds?
Até pouco tempo atrás, as alternativas disponíveis no mercado brasileiro eram restritas para os investidores qualificados ou profissionais. Apenas quem tivesse um patrimônio financeiro superior a 1 milhão de reais tinha acesso a essas alternativas. Para acessar diretamente internacional, a exigência de investimento podia chegar até a 1 milhão de dólares americanos.
Com as recentes mudanças no Brasil, tornou-se mais acessível acessar os mercados internacionais. A primeira decisão é escolher investir diretamente através de uma conta no exterior ou através de ativos disponíveis no mercado brasileiro.
Outra decisão necessária é escolher dentre as opções de investimento em renda fixa no exterior. Se investirmos diretamente no exterior, podemos investir diretamente no mercado de renda fixa comprando bonds; em ETFs de renda fixa negociados em bolsas de valores, que são fundos de índices que investem em determinados bonds; ou por meio de mutual funds, equivalentes aos nossos fundos investimentos.
Investindo no mercado brasileiro, não temos acesso direto ao investimento em bonds. Porém, temos acesso às demais opções, por meio de BDRs de ETFs internacionais de bonds e de ETFs locais que negociam bonds internacionais ou por meio de fundos de investimentos internacionais em renda fixa. Assim como no exterior, BDRs e ETFs são negociados na bolsa de valores.
Um ponto importante a ser observado é a tributação de Imposto de Renda sobre os ganhos, que varia de acordo cada país e pode ser cobrado diretamente na fonte. Por exemplo, um bond emitido nos EUA que paga juros semestrais sofre a tributação de 30% na origem. Ativos negociados no Brasil seguem a tributação de acordo com seu tipo.
Quais são os riscos de investir em renda fixa no exterior?
Uma característica dos mercados globais de bonds é a marcação a mercado dos seus preços, enquanto no Brasil vigorava a marcação na curva em títulos corporativos até o final de 2022. Em termos práticos, isso significa que os preços dos bonds oscilam conforme as variações na condições de mercado. Quando o risco de mercado sobe, as taxas dos bonds sobem e, por consequência, seus preços no mercado caem.
Existem outros riscos que sempre devem ser avaliados, tanto no mercado de títulos locais quanto nos mercados internacionais de bonds. Um deles é o risco de crédito, que é o risco de calote e depende da qualidade de crédito do devedor. Uma maneira de avaliar esse risco é através do rating da empresa, equivalente ao score de crédito que cada um de nós tem.
Outro tipo de risco que deve ser avaliado é o risco de liquidez, relacionado com uma possível dificuldade de vendermos o título antes do vencimento e aceitarmos uma cotação desvalorizada para concluir a venda.
Também não podemos deixar de falar no risco cambial. Como os bonds são cotados em dólares americanos pode haver uma perda inesperada ou maior que a esperada dependendo da variação da moeda em relação ao real brasileiro.
Um risco que costuma ser ignorado é o risco de reinvestimento. Quando escolhermos um prazo menor que o horizonte de tempo dos nossos objetivos, corremos o risco de nos deparar com taxas piores para reaplicarmos no vencimento dos nossos títulos. A melhor maneira de mitigarmos esse risco é contarmos com um planejador financeiro, alinhando assim nossa carteira aos prazos dos nossos objetivos.
Investindo em renda fixa internacional
Os juros nos países mais desenvolvidos são estruturalmente mais baixos. Por esse motivo, ao contrário do mercado brasileiro, em que a renda fixa costuma ser indexada à inflação ou aos juros básicos mais uma taxa pré-fixada, nos mercados internacionais os bonds são emitidos em sua maioria somente com taxas pré-fixadas.
Desde a crise financeira de 2008, as taxas de juros soberanas nos países desenvolvidos estiveram em mínimas históricas próximas a zero. No Japão e na Suíça as taxas chegaram a ser negativas. Diante da inflação resistente provocada pelos desafios impostos pela pandemia global de Covid-19 e pelo conflito na Ucrânia, os bancos centrais precisaram aumentar os juros em velocidade e taxas que não eram vistas há décadas.
Os dados de inflação e de atividade econômica são os principais fatores que ditam o tamanho do aumento e o número de aumentos das taxas de juros. Porém, os mercados internacionais de bonds enfrentam alguma volatilidade diante da divulgação desses dados e da crise dos bancos regionais nos EUA.
No momento em que este artigo foi escrito, a taxa de juros básica nos EUA, a Fed Funds Rate, estava entre 5% e 5,25% ao ano, com a perspectiva de pelo menos mais um aumento. Outros bancos centrais, como o da União Europeia, o da Inglaterra e o da Austrália, também sinalizam novos aumentos.
Neste cenário, as taxas dos bonds corporativos acompanharam o aumento nos mercados de renda fixa e atingiram níveis não registrados desde os anos 2000. Seja por meio de bonds governamentais ou de bonds corporativos, os bonds formam uma classe de ativos importante para reduzir o risco geral dos seus investimentos capaz de gerar rendimentos em moeda forte.
Venha conversar com um Planejador Financeiro K1 Capital Humano para avaliar seus investimentos e sobre como a renda fixa internacional pode fazer a diferença nos seus objetivos!