A nossa vida financeira requer cuidado e existem inúmeras as pessoas que nos influenciam e nos ajudam a cuidar do nosso patrimônio. O que acontece é que com a evolução do mercado financeiro, não ficou muito claro para a maioria das pessoas as funções desses participantes. Principalmente o papel do gerente, do assessor e consultor.
Através deste artigo vou mostrar para vocês a diferença entre o gerente do banco, assessor e o consultor; e como os interesses pessoais dos mesmos podem afetar nos seus investimentos. Mas vou contar isso passeando pela história do mercado financeiro.
O modelo 1.0: A era dos bancos
Ao questionar uma pessoa com 50 anos ou mais sobre qual era sua relação com as instituições financeiras quando começou sua vida profissional, a resposta provável será através de grandes instituições bancárias. Ao longo do século passado o Brasil vivia um cenário de idas e vindas com uma inflação galopante, crises econômicas interrompidas por breves momentos de prosperidade, moedas que se modificavam com alguma frequência.
O acesso à informação e conhecimento de finanças era precário salvo para uma parcela muito pequena da população, em especial para aqueles dedicados ao mercado financeiro. O acesso a produtos financeiros era muito limitado e a caderneta de poupança, aplicações do overnight e imóveis representavam o portifólio típico da família de classe média e média alta brasileira.
Nesse cenário onde a previsibilidade da moeda era próxima a zero e o acesso à informação e produtos financeiros de qualidade quase nulos, a concentração bancária era virtualmente impenetrável. Esse modelo, conhecido como 1.0, ou a era dos grandes bancos perdurou até pelo menos o ano de 2010.
Com a revolução da internet e das tecnologias da informação, um novo paradigma começou a ser construído. Corretoras de Valores deixaram de ser apenas locais para transação de ações e derivativos e começaram a trazer para o Brasil o conceito de plataformas abertas, ou shoppings financeiros.
O modelo 2.0: A era dos autônomos
O avanço do modelo 2.0 estava em curso com a oferta em uma mesma instituição de produtos de investimento de vários bancos, fundos de investimentos das mais diversas gestoras do país e um exército de agentes autônomos começou a se formar com o objetivo de vender investimentos desenvolvidos pelas corretoras e seus parceiros para clientes oriundos do velho modelo bancário.
O benefício percebido foi crescente. O grau de liberdade do investidor aumentou consideravelmente e o movimento do “desbancarize” ganhou força no Brasil, impulsionados principalmente pela maior oferta de produtos financeiros e o trabalho incessante dessa rede de distribuição de produtos de investimentos para uma parcela cada vez maior da população.
Essa concorrência foi extremamente benéfica para o investidor final que antes investia em fundos de renda fixa com taxas exorbitantes que chegavam a incríveis 5% ao ano e passaram a ter acesso a produtos com custos muito mais amigáveis e justos e a hegemonia dos bancos tradicionais finalmente foi ameaçada do ponto de vista do mercado de gestão de recursos ao menos.
Apesar de ganhos inegáveis do modelo 2.0 em relação ao 1.0, assimetria de informação permaneceu inalterada, ou seja, o investidor continuou no escuro sobre como ele de fato remunera seus prestadores de serviços e as instituições por trás deles. Essa falta de transparência gera uma miríade de potenciais conflitos de interesse afetando potencialmente o retorno dos investimentos e o sucesso financeiro de muitas famílias.
O modelo 3.0: A revolução da transparência
Nesse sentido a revolução 3.0, com os consultores de investimento, ganha força no Brasil com a proposta de unir tudo aquilo que o modelo anterior trouxe de bom, ou seja, acessibilidade e diversidade de opções de investimentos, porém atacando frontalmente alguns pilares não resolvidos:
- O aumento da transparência com o modelo de cobrança direta (fee-based), ou seja, aquele no qual o prestador de serviços e o cliente acordam em contrato diretamente firmado entre as partes qual é a remuneração pelo serviço de recomendação de investimentos, sem letras miúdas. Importante ressaltar que o Consultor de Valores Mobiliários não pode migrar entre o modelo comissionado (comission based) ou o modelo de cobrança direta (fee-based) conforme sua conveniência, ou seja, ele é obrigado por força de legislação a trabalhar apenas no modelo de cobrança direta. Isso é transparência!
- Outro ponto fundamental do modelo 3.0, ou o modelo da Consultoria de Valores Mobiliários (ou ainda consultoria de investimentos) é a isenção, ou seja, o consultor não precisa necessariamente estar associado a uma corretora ou instituição financeira para poder realizar recomendações de investimentos. Ele é o único profissional devidamente autorizado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) a construir e recomendar um portfólio personalizado para o investidor em qualquer instituição financeira do Brasil e do mundo e isso é um segundo ponto de diferenciação muito importante. No modelo anterior o profissional está limitado a atuar apenas nas instituições que possui contrato, ou seja, ele é seu representante ou ainda seu preposto.
- Além disso a avaliação do perfil de investidor (suitability) é feita pelo consultor e não pela instituição financeira. Esse pode parecer um detalhe pouco importante, mas na prática confere ao Consultor de Investimentos a liberdade para recomendar aquilo que fizer mais sentido para o investidor final independente da avaliação da instituição financeira que ele estiver investindo. Em outras palavras, o consultor não fica limitado a oferecer a grade de investimentos imposta pela instituição, sendo mais um ponto importantíssimo de diferenciação.
Por fim é fundamental deixar claro para o investidor final que existem bons profissionais seja no antigo modelo 1.0, no maduro modelo 2.0 ou no novo modelo 3.0. (Cabe a cada um decidir de que maneira prefere ser atendido. Os dois primeiros fazem parte do chamado sell side, ou seja, modelo no qual o investidor é atendido por um distribuidor de produtos remunerado por comissões, o ultimo modelo por outro lado, o investidor contrata um comprador (buy side), ou seja, um profissional remunerado diretamente por ele para buscar no mercado melhores opções de investimento capazes de maximizar seu retorno de longo prazo, alinhado a seus objetivos pessoais, minimizando assim os potenciais conflitos de interesses.