Renda fixa só sobe?

Em tempos de alta nas taxas de juros e bolsa para baixo, a tendência é que os investidores queiram rasgar sua estratégia e se tornarem mais conservadores havendo uma corrida para a renda fixa.

E junto a esse movimento vem o seguinte discurso: Vou para renda fixa, pois a renda pode não trazer os maiores retornos, mas pelo menos sempre sobe. 

Será que essa afirmação é verdadeira?

 

Investimentos categorizados como renda fixa também possuem oscilação, mas normalmente não são vistas pelos investidores.

Podemos tomar como exemplo um CDB pré fixado. Antes de mais nada vamos explicar suas características principais: 

  1. Quando você investe em um CDB, está na realidade emprestando seu dinheiro para uma instituição bancária pois, como o próprio nome diz, ele é um Certificado de depósito Bancário. 
  2. Pois bem, depois que você decide que é uma boa emprestar para um banco, precisa decidir se este banco é confiável ou não, se está em boas condições financeiras. Importante ressaltar que avaliar a saúde financeira da instituição é fundamental para o investidor consciente e não apenas se resguarda no FGC, mas isso é papo para outro artigo.
  3. O terceiro e último item é decidir a qual taxa emprestar e, neste nosso exemplo, supomos que você comprou um CDB pré fixado, ou seja, no qual já tem uma taxa pré definida até o vencimento do mesmo. A forma mais tradicional de se expressar esse rendimento ao longo do tempo, é o que chamamos de marcação na curva, mas o que isso significa? 

A marcação na curva

Marcação na curva é o conceito no qual o preço do título ou da cota não é atualizado diariamente considerando as oscilações que ele sofre, só se considera a correção conforme a taxa que foi acordada no ato da compra. Desse modo, não é apresentado possíveis perdas em relação ao valor de mercado diante de variações e também não há demonstrações sobre valorização dos títulos. 

Para investidores que pretendem levar o título até seu vencimento, esse conceito funciona e também traz mais tranquilidade para aqueles que têm viés de aversão a perda.

A marcação a mercado

A renda fixa não é tão fixa assim, por conta de estar atrelada a um indexador variável e o preço do título pode ser outro, se resgatado antecipadamente.

Isso acontece por conta da marcação a mercado, que é praticada no Brasil para títulos públicos e começará em 1 de janeiro de 2023 a ser praticado também em títulos privados (debêntures, CRIs, CRAs por exemplo). A marcação a mercado é a precificação diária dos títulos a partir dos valores dos investimentos de renda fixa, ou seja, é o valor presente, e sim, pode ter muita volatilidade principalmente em títulos de prazo mais longos, podendo até variar tanto quanto uma ação da Petrobras ou da Vale por exemplo. 

A marcação a mercado tem como função trazer viabilidade nas transações do mercado financeiro com a adequação nos valores dos títulos, o que traz mais transparência e confiabilidade no mercado, pois mantém os preços mais de acordo com a realidade. O investidor pode fazer a cotação destes títulos e avaliar diferentes cenários de ganhos ou perdas para decidir sobre a venda ou manutenção de carteira até o vencimento, ou seja, caso você seja aquele investidor medroso, que não suporta ver uma variação negativa, esteja preparado que isso sempre existiu na sua tão querida renda fixa, talvez você apenas não tenha visto. 

Nesse sentido fica nosso alerta, pois a partir do ano que vem todas as instituições financeiras terão que se adaptar e mostrar ao investidor, de maneira transparente, a variação diária dos títulos públicos e privados de sua carteira. 

Nessa hora você pode estar lembrando daquela cena clássica do filme Matrix:

Para exemplificar melhor a marcação a mercado, vamos imaginar o seguinte cenário:

João resolve investir R$ 100.000,00, por exemplo, em uma Debênture Prefixada de 10 anos que paga 10% ao ano. Se levado até o vencimento, ele receberia R$ 259.374,25 bruto de impostos. Porém no quinto ano este investidor decide que precisa resgatar o dinheiro. Neste momento, quando ele olha o saldo no banco ou na corretora, seu título marcado na curva mostra um ganho de R$ 61.051,00. Porém ao receber a cotação do comprador o investidor leva um susto, ou seja, ele recebe uma proposta de compra por volta de R$ 129.000,00 pois neste momento o mercado está pagando, para uma debênture com mesmo vencimento (5 anos e de uma empresa com risco semelhante), a taxa de 20% ao ano. 

Você como investidor preferirá comprar o título de João ou comprar a debênture da outra empresa? Certamente o título novo que paga 20%, ou talvez, o título de João desde que ele ofereça um desconto de tal maneira que no vencimento não faça diferença comprar um título ou o outro. É justamente isso que a marcação a mercado faz justamente precificando a debênture do João e igualando ela às demais semelhantes disponíveis. Isso quer dizer que a debênture está com deságio, pois para ser vendido neste momento o investidor precisará reduzir o preço até o ponto que não faça diferença para o comprador comprar um título ou outro. Nesse movimento é possível até que o investidor venda por um preço menor do que o valor inicial investido (principal).

É importante conhecer estes dois conceitos para poder tomar melhores decisões sobre seus investimentos e evitar surpresas principalmente em mudanças de cenários de mercado ou mudança de rota para o destino de seus recursos.

No final das contas, mais uma vez o que importa é a sua estratégia e o objetivo que busca alcançar. O tamanho de cada classe de ativo no seu portfólio deve ser adequado ao seu perfil de investidor e o tempo do investimento, para tal, sempre é mais recomendado o auxílio de um profissional de mercado para evitar erros que mesmo investidores mais conservadores possam cometer possuindo somente renda fixa na carteira com pensamento de redução de risco, mas deixando na mesa a possibilidade de ganhos antecipados antes do vencimento de seus títulos!

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